No último domingo, 6 de abril, a Avenida Paulista foi palco de uma manifestação histórica que reuniu milhares de pessoas em defesa da anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. Entre os participantes, destacaram-se lideranças políticas, familiares de presos e apoiadores do movimento “Juntos Pela República” (JPR), que luta por uma nova Constituição e pela pacificação nacional.
Juntos Pela República: Um Movimento Pela Mudança
Idealizado por Anderson Dutra, o movimento “Juntos Pela República” acredita que a pacificação nacional só será possível com mudanças estruturais e com o fim da polarização extrema. Anderson Dutra defende que é preciso devolver o Brasil aos brasileiros, promovendo reformas profundas e combatendo privilégios.
Dr. Serginho Borges, Coordenador de Mobilização Nacional do JPR, reforçou: “O movimento Juntos Pela República traz na sua gênese a proposta de uma nova Constituição para o Brasil. […] Precisamos trazer o espírito das ‘Diretas Já!’ para resolver o que é melhor para a nação.” O movimento destaca que seu objetivo é mobilizar a sociedade para construir um sistema político que priorize as soluções estruturais e o bem coletivo.
Relatos de Uma Mãe e Uma Irmã: Amor e Esperança
Missionária Fátima, mãe de Débora Rodrigues, emocionou ao narrar os dois anos de angústia enquanto a filha esteve ausente. “Eu estava sepultada, mas me ressuscitei com a felicidade do retorno da minha filha. Não dormia, hoje eu durmo tranquila. É beijos e abraços dia e noite, nossa vitória e felicidade,” disse, descrevendo o reencontro de Débora com os filhos como um momento carregado de alegria e alívio.
Cláudia Rodrigues, irmã de Débora, compartilhou o impacto que a prisão de sua irmã teve na família e o significado de tê-la de volta. “A nossa união é muito forte. Ter Débora de volta nos permitiu voltar a sonhar, voltar a sorrir. Hoje estamos aqui na Paulista não só por ela, mas por todas as outras mães e mulheres que também têm o direito constitucional de estar com suas famílias.” Cláudia destacou que a luta vai além de Débora, representando todas as mulheres e mães que foram privadas de sua liberdade de forma injusta.
O Clamor Por Justiça: Histórias Que Marcaram a Manifestação
A Voz de Dr. Hélio Júnior
Dr. Hélio Júnior, advogado que representa mais de 100 réus dos casos relacionados ao 8 de janeiro, trouxe uma análise contundente e emocional sobre os processos judiciais e os desafios enfrentados. “Estamos numa luta pela liberdade, numa luta pela absolvição dessas pessoas que foram presas injustamente. […] É muito triste ver essas pessoas presas, sem duplo grau de jurisdição, num julgamento extremamente político. […] Pessoas condenadas sem a menor individualização de condutas, que sequer participaram de vandalismo, permanecem presas, condenadas a penas desproporcionais. Existem muitas Déboras, homens e mulheres, que ainda estão atrás das grades. Anistia já!”
Dr. Hélio também criticou a ausência de foro privilegiado, destacando que os processos deveriam seguir critérios jurídicos, e não políticos. Seu trabalho voluntário como defensor dessas pessoas reflete um compromisso inabalável em lutar contra aquilo que ele descreve como “a maior injustiça da história do nosso país.”
O Caso de Vildete: Um Apelo Humanitário
Entre os relatos mais comoventes está o de Vildete, de 74 anos, que enfrenta condições de saúde extremamente precárias enquanto permanece presa. Claudete, amiga de Vildete, explicou que a idosa sofre de trombose e retrocolite ulcerativa, uma doença inflamatória crônica que pode evoluir para complicações graves, como câncer colorretal. “Ela está em cadeira de rodas, sangrando há dois meses, e com a saúde cada vez mais debilitada. Estamos aqui lutando para que ela receba a liberdade.”
Márcia Higuchi, professora e amiga de Vildete, destacou a indignação coletiva ao abordar a ausência de foro privilegiado e as penas severas aplicadas: “Por que uma mulher de 74 anos, que não fez absolutamente nada, tem que ficar 11 anos presa? Queremos justiça!”
Casos como os de Iraci, de 72 anos, e Francisca, de 62 anos, também ecoaram durante a manifestação, simbolizando o impacto desumano das decisões judiciais e reforçando o clamor por um olhar mais humano e empático.
Uma Reflexão Necessária
Com faixas e cartazes destacando histórias de injustiça, a manifestação reuniu vozes que clamavam por mudanças profundas e humanização do sistema judicial. Casos como os de Débora Rodrigues, Vildete, Iraci e Francisca são um lembrete de que existem “outras Déboras” cujas histórias precisam ser contadas, ouvidas e levadas em consideração.
A luta por justiça transcende posicionamentos políticos e se torna um convite à reflexão sobre os rumos da sociedade brasileira. Que justiça estamos construindo? Como podemos garantir que todos os cidadãos tenham seus direitos preservados? E, acima de tudo, como podemos, como sociedade, olhar para essas histórias com empatia e humanidade?
Por Miriam Melchiori – Colunista Município News