Nova York, 23 de setembro de 2025 — O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da 80ª Assembleia Geral da ONU foi marcado por uma retórica que defende a autodeterminação dos povos e condena sanções internacionais. Mas os exemplos que Lula escolheu — Cuba, Venezuela e Haiti — revelam uma diplomacia seletiva, que ignora violações de direitos humanos, colapsos institucionais e o avanço do crime organizado. O Brasil, que vive sob a influência crescente de facções criminosas, foi omitido da fala presidencial. A ambiguidade não é neutra: ela legitima, por omissão, estruturas autoritárias e criminosas.
Facções criminosas no Brasil: o silêncio institucional
Enquanto Lula se opõe à equiparação entre crime organizado e terrorismo, o Brasil enfrenta um cenário de governança paralela:
– Segundo estudo da Cambridge University Press, publicado em agosto de 2025, 26% da população brasileira vive sob domínio de facções criminosas, como PCC e Comando Vermelho.
– Há 64 facções atuando nas 27 unidades da federação, com presença em transporte, segurança privada, comércio informal e política local.
– O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, edição 2025, registrou 50 mil homicídios em 2024, com taxa de 24,5 por 100 mil habitantes.
– Em áreas dominadas por facções, há “controle social” que reduz homicídios, mas aumenta extorsões, tráfico e lavagem de dinheiro.
Esse modelo de poder informal opera com lógica territorial, econômica e política. Ignorar esse fenômeno em um palco global é mais que omissão — é conivência institucional.
Cuba: o bloqueio existe, mas a repressão também
Lula condenou a inclusão de Cuba na lista de países que patrocinam o terrorismo, mas não mencionou:
– A inflação de 28%, os apagões e a escassez de alimentos.
– A produção industrial colapsada: aço zerado, cimento em 43% do planejado, madeira em 17%.
– A repressão a dissidentes e o controle político absoluto do regime.
Segundo relatório oficial apresentado pelo governo cubano à ONU em setembro de 2025, mais de 80% dos cubanos nasceram sob sanções, que causaram perdas de US$ 2,1 trilhões. Mas o país também mantém censura institucionalizada e perseguição política. Lula escolheu ver apenas metade da realidade.
Venezuela: recuperação sem democracia
A Venezuela foi citada como vítima de ingerência externa. O que não foi dito:
– Nicolás Maduro foi reeleito em 2024 com 51,2% dos votos, sem publicação das atas eleitorais.
– A economia enfrenta inflação superior a 200%, queda de 20% nas exportações e retração de 2% do PIB.
– Há denúncias de crimes contra a humanidade, repressão a protestos e controle total do Judiciário.
Segundo relatório da Human Rights Watch, publicado em julho de 2025, o país continua violando sistematicamente direitos civis e políticos. O Brasil retomou relações diplomáticas e comerciais com o regime chavista. A aproximação, embora apresentada como pragmática, ignora a ausência de garantias democráticas.
Haiti: gangues armadas e colapso estatal
Lula criticou operações militares no Haiti, sem mencionar:
– Mais de 5.600 assassinatos em 2024, mil a mais que no ano anterior.
– 1,3 milhão de haitianos deslocados internamente, a maioria mulheres e crianças.
– 85% de Porto Príncipe sob controle de gangues, que regulam circulação, controlam infraestrutura e impedem a chegada de suprimentos.
Segundo relatório da ONU Haiti, publicado em setembro de 2025, o país está à beira de um colapso total. A fala de Lula, ao ignorar esses dados, fragiliza a credibilidade brasileira no debate sobre segurança e direitos humanos.
Relações comerciais com a Rússia: o desconforto diplomático
Nos bastidores da ONU, foi reforçado que países como Brasil, Índia, China e Turquia continuam negociando com a Rússia:
– Brasil: importa fertilizantes e óleo diesel russo, com destaque para o agronegócio.
– Índia: segue comprando petróleo russo com descontos.
– China: mantém acordos energéticos e tecnológicos com Moscou.
– Turquia: atua como rota de escoamento de gás russo para a Europa.
Segundo levantamento da Reuters, publicado em 22 de setembro de 2025, essas relações foram citadas como obstáculos à pressão internacional por paz e responsabilização do Kremlin. O Brasil, ao manter esses acordos, se afasta do eixo ocidental e se aproxima de regimes que desafiam abertamente a democracia.
Trump: crítica à Europa e contraste silencioso
Donald Trump, em seu discurso na ONU, criticou países da União Europeia por manterem relações comerciais com a Rússia:
“Países da OTAN estão comprando petróleo e gás de Moscou enquanto lutam contra a Rússia. Isso é hipocrisia. Se a Rússia não encerrar a guerra, os Estados Unidos imporão tarifas muito severas, que encerrariam o conflito rapidamente — mas os europeus precisam adotá-las também.”
(Discurso oficial, 23 de setembro de 2025)
Sem mencionar o Brasil, Trump deixou claro que quem negocia com Moscou enfraquece o Ocidente e sabota a paz. A crítica foi direta, o recado foi global.
Israel e Palestina: posições opostas
– Lula: condenou os ataques do Hamas, mas classificou as ações de Israel como “genocídio”. Lamentou a ausência da delegação palestina e criticou os EUA por revogarem vistos.
– Trump: defendeu Israel e criticou o reconhecimento do Estado Palestino por países europeus, classificando isso como “recompensa ao terrorismo”.
Encontro entre Lula e Trump: cordialidade e cautela
Nos bastidores da Assembleia, Trump relatou um breve encontro com Lula:
“Eu estava entrando, e o líder do Brasil estava saindo. Eu o vi, ele me viu, e nos abraçamos. Tivemos ali uns 20 segundos. Ele parece um homem muito legal. Eu gosto dele, e ele gosta de mim. E eu gosto de fazer negócios com pessoas de quem eu gosto.”
(Discurso oficial, 23 de setembro de 2025)
O presidente americano anunciou que os dois concordaram em realizar uma reunião na próxima semana. A pauta deve incluir o tarifaço imposto aos produtos brasileiros, além de temas diplomáticos e comerciais. Segundo fontes do Departamento de Estado, o encontro foi espontâneo e não estava previsto na agenda oficial.
Fontes do Itamaraty indicam que Lula prefere iniciar o diálogo por teleconferência, evitando exposição pública e buscando preservar margem de negociação. A diplomacia brasileira adotou postura cautelosa diante da possibilidade de uma reunião presencial.
Opinião da coluna
Lula não elogiou ditaduras. Mas também não as condenou. Não defendeu facções. Mas também não as enfrentou. A diplomacia brasileira, ao evitar posicionamentos claros, acaba por legitimar estruturas autoritárias e criminosas. Enquanto isso, líderes que ocupam espaço global reafirmam valores de soberania, segurança e liberdade — com firmeza, mas sem confronto direto.
Essa postura, embora apresentada como neutra, revela uma escolha: a de não se indispor com regimes que desafiam abertamente os princípios democráticos. O silêncio, neste caso, não é prudência — é estratégia. E como toda estratégia, carrega consequências.
Por Daniel Matos – Colunista do Município News















