Kathmandu, 10 de setembro de 2025 — O Nepal vive um dos momentos mais dramáticos de sua história recente. Após décadas de instabilidade política e um regime comunista centralizador, o país foi tomado por uma onda de protestos liderados por jovens. O estopim? O bloqueio de 26 redes sociais. Mas a faísca acendeu um barril de pólvora: corrupção, nepotismo e desigualdade. No centro dessa revolta está Avishkar Raut, um estudante de 16 anos que viralizou com um discurso inflamado e agora lidera uma revolução.
Quem é Avishkar Raut?
Avishkar Raut é líder estudantil da escola Holy Bell English Secondary School, localizada em Jhapa, no sudeste do Nepal. Em março de 2025, ele viralizou com um discurso em inglês durante um evento escolar, conhecido como “Jai Nepal” (“Viva o Nepal”), onde denunciou a corrupção e a falta de oportunidades para os jovens.
“Today I am here with a dream to build a new Nepal, with a flame of hope and passion burning inside me. But my heart is heavy because that dream seems to be slipping away.”
(“Hoje estou aqui com um sonho de construir um novo Nepal, com uma chama de esperança e paixão queimando dentro de mim. Mas meu coração está pesado porque esse sonho parece estar escapando.”)
Desde então, Raut se tornou símbolo da juventude nepalense. Ele liderou manifestações em Kathmandu, discursou em praças públicas e foi comparado à ativista sueca Greta Thunberg por sua postura combativa e espontânea.
O Estopim da Revolta
Em 4 de setembro, o governo nepalês bloqueou redes sociais como Facebook, Instagram, YouTube, WhatsApp e X (antigo Twitter), alegando que as plataformas não haviam se registrado conforme nova legislação. A medida foi vista como censura e provocou indignação entre os jovens, que usam essas redes como espaço de estudo, trabalho e expressão.
A revolta ganhou força com a exposição dos chamados “Nepo Kids” — filhos de políticos que ostentam luxo nas redes sociais, enquanto a maioria da população vive com menos de US$ 1.400 por ano.
A Queda do Governo
Em 8 de setembro, milhares de jovens tomaram as ruas de Kathmandu. A repressão foi violenta: balas reais, gás lacrimogêneo e prisões arbitrárias. Ao menos 23 pessoas morreram, incluindo estudantes e três policiais. O Parlamento, o Palácio Presidencial e residências de ministros foram incendiados.
O primeiro-ministro KP Sharma Oli, líder do Partido Comunista do Nepal (CPN-UML), renunciou e fugiu do país. O presidente Ram Chandra Paudel também deixou o cargo após sua casa ser invadida.
Contexto Político: O Fim de um Regime Comunista
Desde 2018, o Nepal era governado por uma coalizão comunista formada pelos partidos CPN-UML e CPN-Maoist Centre. O regime, liderado por KP Sharma Oli, concentrava poder e dominava seis das sete províncias do país. A promessa era de justiça social e inclusão, mas o que se viu foi faccionalismo interno, corrupção sistêmica em escolas, hospitais e obras públicas, e nenhum governo completando um mandato de cinco anos desde 2008.
Com a renúncia de Oli e o colapso da coalizão comunista, o país entrou em um vácuo constitucional. Especialistas apontam que a única saída viável é a formação de um governo de unidade nacional, com apoio do Exército e representação da juventude.
O Que Vem Pela Frente
Segundo o professor Bipin Adhikari, da Universidade de Kathmandu, o presidente pode convocar um governo provisório com base em consenso parlamentar. Há três cenários possíveis: um governo civil interino apoiado pelo Exército até novas eleições; a ascensão de lideranças jovens, como o prefeito de Kathmandu, Balendra Shah — rapper e engenheiro, popular entre os manifestantes; ou a convocação de uma nova Constituinte, com participação direta da Geração Z e revisão das estruturas de poder.
A curto prazo, o país enfrenta risco de instabilidade. Mas a médio e longo prazo, há esperança de renovação política, com maior transparência, inclusão e participação popular.
A Geração Z e a Nova Era
Os jovens entre 15 e 30 anos representam mais de 40% da população do Nepal. Eles cresceram conectados, informados e cansados de promessas vazias. A revolta não é ideológica — é ética. Eles exigem dignidade, justiça e futuro.
Avishkar Raut, com apenas 16 anos, tornou-se o rosto dessa transformação. E o Nepal, que já foi palco de guerras civis e ditaduras, pode agora se tornar exemplo de renovação democrática liderada pela juventude.















