O telefone tocou cedo em Brasília: o Planalto acionou a Camex para abrir o rito da Lei de Reciprocidade Econômica. É a resposta formal ao tarifaço de 50% anunciado pelos Estados Unidos. Na prática, o Brasil põe à mesa a possibilidade de responder na mesma moeda. A Camex tem até 30 dias para listar setores sensíveis e propor medidas (tarifas setoriais, quotas e ajustes em compras públicas). A hipótese de suspensão pontual de obrigações de propriedade intelectualexisteexcepcional e costuma ser lenta.
Do outro lado, a ordem executiva da Casa Branca vinculou o aumento tarifário a ações do governo brasileiro que afetariam liberdade de expressão e interesses econômicos dos EUA. Em paralelo, Washington sancionou Alexandre de Moraes sob o arcabouço Global Magnitsky e a USTR abriu uma investigação 301 sobre práticas do Brasil (meios de pagamento, digital, PI, etanol, temas ambientais), com audiência marcada. O conjunto desses atos mantém aberta a porta para nova rodada de pressão americana caso a reciprocidade avance com força.
O que está em jogo, sem rodeios:
— Economia real. Se o Brasil retaliar duro, os EUA podem escalar com base nos instrumentos que já acionaram (tarifas adicionais, extensões de sanções). Se não reagir, setores exportadores perdem margem e previsibilidade.
— Tempo e método. Primeiro vem o parecer técnico da Camex; depois, a decisão política sobre quais alvose quando .
Dia de dois palcos em Brasília. No mesmo dia em que começa o julgamento de Jair Bolsonaro na Primeira Turma do STF, o Senado ouvirá, por videoconferência, Eduardo Tagliaferro (ex-assessor ligado ao gabinete de Alexandre de Moraes). A coincidência acende o debate: governo, Judiciário e Congresso sob holofotes enquanto o país negocia tarifas e reputação lá fora.
Onde a história pode ir (cenários reais):
— Brasil: lista de contramedidas em até 30 dias, com tendência de tarifas espelho calibradas e amortecimento a exportadores atingidos.
— EUA: possibilidade jurídica de ampliar a lista tarifada e estender sanções já está posta pelos atos publicados — não é previsão, é porta aberta.
— Mercado: volatilidade no curto prazo; empresas revisam custos, contratos e logística conforme a rota escolhida agora.
Contexto político: propostas de anistia relacionadas ao 8 de janeiro não avançaram desde 2024; as presidências de Câmara e Senado não pautam anistia nem impeachment de ministros do STF. O foco imediato está na reciprocidade, no calendário da USTR e nos desdobramentos do STF e do Senado.
O Brasil entrou na fase em que cada passo tem custo e consequência. Reagir pode encarecer o jogo; não reagir pode cobrar a conta mais adiante. A próxima cena já tem data: parecer da Camex, sessão no Senado e STF em paralelo. O tabuleiro se move ao mesmo tempo — e o brasileiro vê a mudança no preço, no emprego e na confiança.
Nota de transparência: trabalhamos com documentos oficiais e atos públicos. Quando há recortes diferentes (tarifas, investigação 301, sanções, rito da reciprocidade), indicamos o escopo de cada um.















