Um levantamento do Instituto Pacto Contra a Fome revelou um dado alarmante: mais de 70% da população brasileira não tem renda suficiente para arcar com o custo de uma cesta básica ideal. O estudo, baseado na edição mais recente do Boletim Mensal de Monitoramento da Inflação dos Alimentos, aponta que o valor médio da cesta ideal chegou a R$ 432 por pessoa em abril de 2025, representando 21,4% da renda média per capita do país, estimada em R$ 2.020.
Impacto da inflação alimentar e da política econômica
A inflação dos alimentos tem afetado de forma desproporcional as famílias de baixa renda. Em abril, o grupo Alimentação e Bebidas registrou um aumento de 0,82% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acima da média geral, que ficou em 0,43%. Produtos essenciais como batata (18,29%), tomate (14,32%) e café moído (4,48%) puxaram a alta no mês, tornando ainda mais difícil o acesso a uma alimentação adequada.
Além da inflação, a política econômica do governo Lula tem sido apontada como um dos fatores que agravam a situação. A alta da taxa Selic para 14,75%, aliada à criação de novos impostos, aumento de taxas e gastos públicos elevados, tem gerado insegurança jurídica e econômica, impactando diretamente o custo de vida da população. A instabilidade econômica afeta o poder de compra dos brasileiros, tornando a alimentação saudável um desafio para milhões de famílias.
Alegações do Banco Central sobre a Selic
O Banco Central justifica a manutenção da Selic em 14,75% como uma estratégia para conter a inflação e garantir a estabilidade econômica. Segundo o Comitê de Política Monetária (Copom), a política monetária contracionista busca reduzir o crescimento econômico e o consumo, o que ajudaria a controlar a alta dos preços. O BC argumenta que:
- Controle da inflação: A meta de inflação para 2025 é 3%, mas as projeções indicam um fechamento em 4,8%, acima do limite tolerado.
- Credibilidade do mercado: Manter juros altos preserva a confiança dos investidores e evita uma desvalorização excessiva do real.
- Impacto no crédito: A Selic elevada reduz a demanda por crédito, desacelerando o consumo e ajudando a conter a inflação.
Apesar dessas justificativas, entidades do setor produtivo criticam a decisão, alegando que os juros altos dificultam investimentos produtivos e aumentam o custo da dívida pública. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) alertam que a política monetária restritiva pode aprofundar a desaceleração econômica e prejudicar a geração de empregos.
Especialistas alertam para os impactos da crise alimentar
O ex-diretor-geral da FAO, José Graziano, destacou em entrevista ao Viomundo que a fome no Brasil não é causada pela falta de alimentos, mas pela falta de renda. Segundo ele, a concentração de renda extrema e a alta dos preços dos alimentos tornam o acesso à alimentação cada vez mais difícil.
A professora da Unifesp e coordenadora do Grupo de Pesquisa Nutrição e Pobreza do Instituto de Estudos Avançados da USP, Semíramis Domene, analisou o 3º Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e ressaltou, em entrevista ao Brasil de Fato, que o Brasil precisa de políticas estruturais para garantir segurança alimentar plena e evitar novos retrocessos.
O economista-chefe da ARX Investimentos, Gabriel Barros, afirmou ao BM&C News que os estímulos econômicos do governo podem comprometer a credibilidade do Banco Central e dificultar a redução da Selic. Segundo ele, a política fiscal expansionista tem gerado desequilíbrios que impactam diretamente o custo de vida da população.
A realidade da insegurança alimentar
O estudo revela que mais de 10% da população brasileira – cerca de 21,7 milhões de pessoas – vivem com uma renda inferior ao custo da cesta básica ideal. Isso significa que milhões de brasileiros enfrentam dificuldades para garantir uma alimentação saudável, muitas vezes dependendo de programas sociais e iniciativas de combate à fome.
Segundo especialistas, o impacto da inflação alimentar sobre famílias vulneráveis pode ser até 2,5 vezes maior do que sobre as de alta renda. Isso ocorre porque os alimentos essenciais e in natura, mais suscetíveis a variações climáticas e sazonais, continuam pressionando os preços, tornando o acesso à alimentação adequada cada vez mais difícil.
O que pode ser feito?
O Pacto Contra a Fome defende a necessidade de um monitoramento contínuo dos preços e da criação de políticas públicas que garantam acesso a uma alimentação de qualidade para todos. Especialistas alertam que, sem medidas econômicas mais previsíveis e controle dos gastos públicos, a tendência é que a inflação permaneça elevada, impactando diretamente o custo da alimentação e a qualidade de vida dos brasileiros.















