A Justiça de São Paulo suspendeu a licitação da Polícia Militar para adquirir 15 mil coletes à prova de bala. A decisão atendeu ao pedido de uma das empresas participantes da concorrência e apontou que o edital restringia a competição ao exigir uma certificação internacional que deixou de ser emitida no Brasil, sendo agora fornecida apenas por laboratórios nos Estados Unidos.
Segundo a Polícia Militar, medidas judiciais estão sendo analisadas e a previsão é que os coletes sejam substituídos no segundo semestre. A corporação afirma que não há risco imediato de desabastecimento, mas o cenário atual mostra outra realidade.
Dos 17 mil coletes comprados no início deste ano, apenas 3 mil foram entregues. Com a validade de cinco anos vencida em muitos equipamentos, policiais estão revezando os coletes que ainda estão em condições de uso. O atraso na entrega ocorreu após a reprovação dos materiais das empresas vencedoras do processo de compra, o que comprometeu o cronograma previsto.
Mas os coletes são apenas parte de uma crise maior. Policiais que atuam na região central de São Paulo, na Zona Leste e no Alto Tietê relataram problemas como uniformes em más condições, viaturas com falhas frequentes, falta de manutenção e uma defasagem salarial crescente. Segundo os agentes ouvidos, esses problemas são antigos, mas vêm se agravando nos últimos meses.
Há também um crescente desgaste entre a base da Polícia Militar e o governo do estado, liderado por Tarcísio de Freitas. Os policiais relatam frustração com promessas feitas pelo governador durante a campanha de 2022, especialmente sobre melhorias salariais e valorização da carreira. Entre muitos deles, há um sentimento de arrependimento por terem apoiado Tarcísio nas eleições, acreditando que ele traria avanços concretos para a segurança pública — o que, segundo os policiais (que pediram para não ter seus nomes citados), até o momento, não aconteceu.
A combinação de estrutura precária, promessas não cumpridas e falta de perspectiva tem ampliado o descontentamento dentro da corporação, justamente num momento em que a segurança pública, uma das bandeiras políticas de Tarcísio, não tem funcionado como se imaginava e é uma das maiores preocupações da população paulista.