Você já parou para pensar que aquilo que colocamos no prato vai muito além de nutrir o corpo? Alimentamos também a mente, as emoções, a memória, o humor e até o sono. Mais do que isso: alimentamos dois cérebros ao mesmo tempo.
Sim, dois. O que temos na cabeça, que dirige nossos pensamentos e decisões, e o que habita silenciosamente no abdômen, conhecido como “segundo cérebro”: o intestino.
Essa relação é tão íntima que a ciência batizou de “eixo intestino-cérebro” a comunicação permanente entre eles. O dado mais impressionante? Cerca de 90% da serotonina, neurotransmissor associado ao bem-estar, é produzida no intestino. Ou seja, o que comemos afeta diretamente nossa disposição, concentração, humor e capacidade de lidar com o estresse.
Ambos — intestino e cérebro — processam aquilo que oferecemos: alimentos nutritivos ou vazios, relações saudáveis ou tóxicas, rotinas que equilibram ou adoecem. Não por acaso, muitos problemas emocionais e cognitivos estão relacionados a desequilíbrios intestinais, como a disbiose, inflamações silenciosas e doenças autoimunes.
Quando compreendemos essa conexão, o convite é evidente: que tal cuidar, com mais intenção, do que colocamos no prato, buscando não apenas saúde física, mas também equilíbrio emocional?
Atualmente, sabemos que nutrientes específicos são aliados do cérebro em todas as fases da vida. Na infância, por exemplo, o DHA — ácido graxo do ômega-3 — é essencial para a formação do sistema nervoso, contribuindo para a atenção, memória e aprendizagem. Crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem se beneficiar significativamente desse nutriente, além de minerais como zinco, magnésio e ferro, fundamentais para o desenvolvimento cognitivo e emocional.
Desde cedo, o intestino já desempenha papel crucial: uma microbiota saudável, nutrida com fibras, frutas, vegetais e alimentos fermentados naturais, contribui para regular o comportamento, o humor e até a capacidade de aprendizado.
Na vida adulta, buscamos foco e produtividade. Nesse contexto, polifenóis presentes em frutas vermelhas, cacau e chá verde protegem os neurônios e favorecem a memória. O triptofano, encontrado na banana, aveia e leguminosas, é essencial para regular o humor e o sono, pois dá origem à serotonina.
Quem nunca sentiu aquele “frio na barriga” antes de uma decisão importante? Ou percebeu o intestino alterado em momentos de estresse? A comunicação entre esses dois cérebros é constante, bidirecional e poderosa.
Na menopausa, essa conexão ganha ainda mais destaque. A queda do estrogênio afeta o humor, o sono e a cognição. Muitas mulheres relatam lapsos de memória e alterações emocionais. Nesse momento, nutrientes como ômega-3, vitamina D, cálcio, magnésio e isoflavonas (presentes na soja) podem amenizar os sintomas e proteger o cérebro.
Com o avanço da idade, nosso microbioma também sofre alterações, e cuidar da saúde intestinal torna-se fundamental para proteger o cérebro contra doenças como Alzheimer e Parkinson. A dieta mediterrânea, rica em azeite, peixes, vegetais e frutas, segue como uma das melhores estratégias para preservar as funções cognitivas.
Entre os alimentos considerados aliados do cérebro, destacam-se cinco:
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Abacate: protege as artérias e favorece o fluxo sanguíneo cerebral.
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Peixes de água fria: são fontes de DHA, essencial para a plasticidade neuronal.
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Chocolate amargo: melhora o humor e a memória graças aos antioxidantes.
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Frutas vermelhas: protegem contra o envelhecimento cerebral.
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Ovos: fundamentais para a produção de acetilcolina, neurotransmissor relacionado à memória.
Nenhum alimento, isoladamente, realiza milagres. O mais importante é adotar um padrão alimentar equilibrado, aliado a outros pilares: prática regular de exercícios físicos, sono de qualidade e relações interpessoais saudáveis.
Cuidar da alimentação é um gesto profundo de autocuidado. É escolher, todos os dias, o que vamos oferecer aos nossos dois cérebros, lembrando que ambos digerem aquilo que fornecemos — seja bom ou ruim.
Bem-estar, saúde mental e alta performance não são conquistas isoladas, mas construções diárias. Que tal, então, começar hoje mesmo a nutrir, com mais amor e consciência, não apenas o corpo, mas também a mente?














