O senador e ex-juiz da Lava Jato, Sergio Moro, criticou a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados por tentativa de golpe de Estado. Em entrevista ao Podcast Café com Ferri, publicada em 26 de fevereiro de 2025, Moro apontou fragilidades na peça acusatória e questionou a falta de uma conexão clara entre o que ocorreu nos atos de 8 de janeiro e as supostas articulações anteriores ao evento.
“Li a denúncia com atenção, são mais de 200 páginas, e não consegui encontrar uma ligação forte entre o 8 de janeiro e os eventos anteriores”, afirmou Moro. Ele argumentou que a visão predominante no meio político é que o 8 de janeiro foi um “extravasamento” de manifestantes, e não uma ação coordenada para um golpe.
Críticas às penas aplicadas e apelo por justiça
Sergio Moro também demonstrou preocupação com as penas consideradas desproporcionais para alguns dos condenados pelo 8 de janeiro. Ele citou o caso de manifestantes como Fátima de Tubarão e Débora “do Batom”, que receberam penas de até 17 anos de prisão.
“Essas pessoas têm que ser punidas, mas dentro da proporcionalidade. Não se pode querer fazer justiça do passado em cima delas. Parece que querem descontar o que não foi feito em 64 agora. Isso não é justiça”, declarou o senador.
Moro destacou que, inicialmente, defendia penas mais leves, como alguns meses de prisão ou prestação de serviços comunitários. No entanto, ele afirmou que, após mais de um ano de prisão, a melhor solução seria a anistia.
“Agora, a anistia se justifica. Essas pessoas já ficaram presas por tempo suficiente. O rigor está excessivo”, defendeu.
Denúncia contra Bolsonaro e cenário político
Sobre a acusação de tentativa de golpe, Moro ponderou que, embora algumas figuras ligadas ao ex-presidente pudessem ter discutido ações nesse sentido, não houve efetivamente um golpe e nem provas claras de que haveria uma tentativa concreta.
“Havia uma cogitação? Talvez. Mas cogitar não é crime. O golpe não aconteceu. O governo Lula está aí e, aliás, é um desastre”, ironizou.
O senador também criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) por manter o julgamento no tribunal superior, argumentando que o caso deveria ir para a primeira instância, já que Bolsonaro não tem mais foro privilegiado.
“O Lula foi julgado em primeira instância. O correto seria que esse caso também fosse”, disse, apontando que a presença do deputado federal Alexandre Ramagem entre os denunciados foi um dos argumentos usados para manter o caso no STF.
Gilmar Mendes e as contradições do STF
Outro ponto abordado por Moro foi uma declaração do ministro Gilmar Mendes, que, em entrevista recente em Portugal, afirmou que o 8 de janeiro “não passou de uma baderna”. O ex-juiz questionou a incoerência dentro do STF, já que outros ministros aplicaram penas severas, com base na tese de tentativa de golpe de Estado.
“Como pode um ministro dizer publicamente que foi uma baderna, enquanto outros impõem penas absurdas? Parece que há uma jurisprudência de ocasião”, alfinetou.
O senador concluiu afirmando que a denúncia da PGR não prova a ligação entre os eventos de dezembro de 2022 e os ataques de janeiro de 2023, o que, segundo ele, pode comprometer a credibilidade do processo.
“A grande questão é que não há uma conexão clara entre o plano e a execução. Isso fragiliza a denúncia”, finalizou. assista o podcast Café Com Ferri na íntegra.