A 2ª Conferência do Autismo de Ferraz de Vasconcelos e Região destacou os desafios da inclusão e da acessibilidade das famílias ao conhecimento. A abertura da Pré-Conferência foi realizada na sexta-feira, 31 de janeiro, na cidade de Ferraz de Vasconcelos, no Alto Tietê – SP, das 15h às 19h, sob a organização e liderança do Bispo Ronaldo Resend.
Ferraz de Vasconcelos foi palco da Segunda Conferência do Autismo, reunindo especialistas, familiares, ONGs e autoridades para debater avanços e desafios na inclusão de pessoas autistas e neurodivergentes. O evento aconteceu no salão de eventos na Rua Getúlio Vargas, 250 – Centro de Ferraz de Vasconcelos SP, promovendo diálogos e propostas para políticas públicas mais eficazes.
Uma palestra sobre acolhimento de indivíduos autistas, tanto neurotípicos quanto neuroatípicos, foi uma oportunidade valiosa para promover a compreensão e a inclusão. O objetivo principal foi sensibilizar o público sobre as diferentes experiências vividas por pessoas no espectro autista e a importância de criar ambientes que respeitem e acolham essas diversidades. A palestra abordou temas como a importância do diagnóstico precoce, a seletividade alimentar, estratégias de inclusão em ambientes educacionais e profissionais, o que é a cannabis, e o papel da sociedade em apoiar a autonomia e o bem-estar dos indivíduos autistas. Além disso, foi fundamental destacar a importância de escutar as vozes autistas e promover o respeito às suas necessidades e preferências, criando um espaço seguro e acolhedor para todos.
O propósito de uma conferência dedicada à comunidade do autismo é criar um espaço para a troca de conhecimento, experiências e avanços no campo do autismo, tanto para pessoas autistas quanto para profissionais que trabalham com elas. A importância da participação profissional nesta conferência está na capacidade de oferecer perspectivas baseadas em pesquisas científicas e práticas clínicas, o que pode melhorar significativamente as estratégias de suporte e intervenções. Essas conferências aumentam a conscientização e a compreensão, promovendo maior inclusão social e respeito à diversidade neurodivergente. “Ao reunir indivíduos autistas, suas famílias e profissionais, fomentamos um diálogo construtivo, o que pode levar a mudanças positivas, melhorando a qualidade de vida das pessoas autistas e enriquecendo toda a comunidade”, esclareceu o organizador Bispo Ronaldo Resend.
A Conferência contou com a participação de Edna Carvalho (psicóloga), Beatriz Torres (nutricionista infantil), Viviani (aplicadora ABA), Pryscila (neuropsicopedagoga), Dr. Gabriel (advogado), Keila Costa (presidente da AMAFV), Drica (mãe atípica), Edni M. Cabral (presidente da AMAIAZUL) e Dra. Emilia S. Giovannini. Também estiveram presentes empreendedores que apoiam a causa e organizações não governamentais do município e representantes das cidades circunvizinhas de Itaquaquecetuba, Poá, Guaianases, entre outras.
A organização “OIAEU” abrilhantou a conferência combinando dança, teatro e vivências sensoriais para crianças com autismo, proporcionando uma leitura de inclusão onde elas podem explorar e expressar suas emoções. O professor e a diretora Bete nos emocionaram com a apresentação de suas crianças, um espetáculo maravilhoso.
Os temas abordados na conferência incluíram diagnóstico precoce, uso da cannabis, seletividade alimentar, direitos legais, inclusão educacional e depoimentos de mães atípicas. O diagnóstico precoce de condições neurodivergentes, como autismo, TDAH, dislexia e deficiência intelectual, é essencial para assegurar que indivíduos recebam o apoio e as intervenções adequadas desde cedo. A cannabis tem sido estudada por seu potencial terapêutico em várias condições, incluindo algumas relacionadas à neurodivergência, mas seu uso deve ser cuidadosamente considerado e supervisionado por profissionais de saúde devido a questões legais e de saúde. No Brasil, o uso medicinal da cannabis é regulamentado, mas seu uso recreativo ainda é ilegal. Quanto à seletividade alimentar, que é comum em pessoas neurodivergentes, é importante abordar essas questões com sensibilidade e apoio nutricional adequado, promovendo uma dieta balanceada sem pressionar ou estigmatizar o indivíduo. É crucial que os direitos legais de pessoas neurodivergentes sejam respeitados e ampliados, garantindo acesso a tratamentos, educação e outras necessidades fundamentais para uma vida plena e integrada à sociedade.
Além das palestras enriquecedoras, tivemos a oportunidade de ouvir depoimentos emocionantes:
“Já adquirimos o mais importante, que é o conhecimento, e foi maravilhoso. Tive que driblar meu filho porque ele amou os brinquedos – então ouvia um pouco e ficava lá fora um pouco, mas foi muito produtivo. Muito obrigada pelo convite, Deus abençoe! Parabéns a todos os envolvidos direta e indiretamente pelo evento, foi maravilhoso.” – Eliana Loureiro (mãe atípica)
“Eu sou grata a oportunidades, em poder participar como intérprete de Libras foi enriquecedor.” – Solange Geres (intérprete de Libras)
“Foi um enorme prazer estar com todos. São ações que fortalecem a causa e abrem portas para dar condições aos filhos, irmãos, à família atípica de se organizar e lutar pelos direitos da criança.” – Keila Costa (presidente da AMAFV). Seu depoimento emocionou a todos, onde podemos ver que ainda há muito a ser feito, afinal, ainda estamos aqui!
Emilia do Instituto Viver Italo nos presenteou com uma aula sobre a cannabis, esclarecendo que o uso de cannabis como tratamento para o autismo tem sido um tópico de crescente interesse e debate. Algumas famílias e indivíduos relatam melhorias em sintomas como ansiedade, agressividade e dificuldades de comunicação após o uso de canabinóides. No entanto, é crucial que qualquer consideração sobre o uso de cannabis como tratamento seja discutida com profissionais de saúde qualificados, que possam oferecer orientação baseada nas evidências mais recentes. Além disso, as famílias devem estar cientes das leis e regulamentos locais sobre o uso de cannabis medicinal.
O organizador do evento, Bispo Ronaldo Resend, de posse da palavra, nos contagiou com seu entusiasmo na luta por esta causa e, para dar continuidade, ficou estabelecido que a próxima conferência será na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) em 12/04, sendo um evento significativo, abordando temas de grande relevância para a comunidade autista e neurodivergente.
A conclusão da conferência sobre autismo e neurodivergência destacou a importância de promover uma sociedade mais inclusiva e compreensiva para indivíduos neurodivergentes. Os participantes enfatizaram a necessidade de aumentar a conscientização pública e a educação sobre o autismo, a fim de combater estigmas e mitos associados à condição. Ações futuras incluem o desenvolvimento de políticas públicas que garantam acessibilidade e oportunidades iguais em todas as esferas da vida, como educação, emprego e serviços de saúde. Além disso, foi ressaltada a importância de incorporar as vozes das pessoas neurodivergentes em todas as etapas do planejamento e implementação de iniciativas, garantindo que suas experiências e necessidades sejam plenamente reconhecidas e atendidas. A conferência também incentivou o fortalecimento das redes de apoio comunitário e o desenvolvimento de projetos de aprofundamento no atendimento a autistas e neurodivergentes, envolvendo uma abordagem multidisciplinar e inclusiva. É essencial realizar um levantamento das necessidades específicas dessa população neurodivergente, envolvendo familiares, profissionais da saúde, educadores e os próprios neurodivergentes. Com base nessas informações, a cidade pode implementar programas de formação contínua para profissionais de saúde, educação e serviços sociais, focando nas melhores práticas de atendimento e suporte. Além disso, é importante criar espaços seguros e acessíveis, como centros comunitários e grupos de apoio, onde indivíduos neurodivergentes possam se reunir, compartilhar experiências e encontrar recursos. A colaboração com organizações não-governamentais e grupos de defesa de direitos pode enriquecer esses projetos, garantindo que as iniciativas sejam inclusivas e respeitem a diversidade e a singularidade de cada pessoa. Finalmente, a conscientização pública, através de campanhas educacionais, pode ajudar a construir uma sociedade mais inclusiva, acessível, acolhedora e empática. Esses são os tópicos de referência para essa causa que muito nos une.
Por Edna Carvalho – Psicóloga CRP 06/84782 – 02/02/2025