A adolescência traz um desafio enorme para a maioria das famílias, não é mesmo? São tantas explosões emocionais, comportamentos desafiadores e, por outro lado, momentos de responsabilidade e discernimento. Ora estão extremamente divertidos e intensos, ora não têm disposição para nada… principalmente pela manhã, na maioria dos casos. E nem falamos ainda da fome de leão!
Tudo isso faz parte do desenvolvimento cognitivo e fisiológico. Os adolescentes estão longe de serem “mini adultos”, mas estão caminhando para se tornarem adultos integrados à sociedade – e esperamos que isso ocorra de maneira responsável e saudável.
O Cérebro em Construção
Nesta fase, acontece outra poda sináptica importante (a primeira grande poda ocorre aos dois anos de idade, como abordado no primeiro artigo desta série). Mais uma vez, conexões pouco utilizadas são descartadas, tornando as redes neurais remanescentes mais eficientes. Além disso, acontece a mielinização, um processo no qual uma espécie de “capa protetora” se forma ao redor dos neurônios, acelerando a comunicação entre diferentes partes do cérebro. Isso melhora a capacidade de pensar criticamente e tomar decisões. No entanto, essa otimização ocorre de maneira desigual: áreas ligadas às emoções e impulsos amadurecem antes do córtex pré-frontal, que é responsável pelo controle das emoções, planejamento e avaliação de riscos. Isso explica por que adolescentes podem agir impulsivamente ou tomar decisões arriscadas – não porque querem, mas porque o cérebro ainda está aprendendo a equilibrar razão e emoção.
Esse amadurecimento cerebral também impacta a forma como pensam e percebem o mundo. Jean Piaget, chama de estágio operatório formal, o momento em que o adolescente desenvolve o pensamento abstrato, a capacidade de elaborar hipóteses e refletir sobre questões complexas. Isso possibilita que formulem opiniões próprias sobre temas como justiça, moralidade e carreira. Entretanto, é comum a presença do egocentrismo adolescente, caracterizado por dois fenômenos: a crença de que suas experiências são únicas e incompreensíveis para as pessoas (Fábula pessoal); como também uma sensibilidade extrema à opinião dos outros e a sensação de que estão sempre sendo observados e julgados pelos demais (Audiência imaginária).
O Turbilhão Emocional e a Construção da Identidade
Erik Erikson descreveu a adolescência como a fase da crise de identidade X difusão de identidade. Durante esse período, os jovens experimentam diferentes papéis sociais, exploram novas amizades e questionam valores familiares. Muitos pais interpretam esse comportamento como um desafio à sua autoridade, mas, na verdade, os adolescentes não estão rejeitando sua criação; estão apenas tentando construir sua própria identidade. Esse processo de questionamento é fundamental para que se tornem adultos autônomos e seguros.
Ainda, as flutuações hormonais exercem grande influência no comportamento, contribuindo para oscilações de humor, impulsividade e momentos de introspecção. É essencial que os adultos compreendam que o adolescente não está contra eles – está apenas lidando com um turbilhão de transformações internas. Saber conduzir diálogos de maneira respeitosa e aberta evita conflitos desnecessários e fortalece o vínculo familiar.
Mudanças Fisiológicas e Seus Desafios
Não podemos deixar de falar que a puberdade é um dos marcos mais visíveis dessa fase e as alterações hormonais desencadeiam o crescimento acelerado, o desenvolvimento de características sexuais secundárias e novas necessidades fisiológicas. Para isso, o corpo demanda um maior aporte energético para sustentar esse crescimento rápido, o que explica o aumento significativo da fome nos adolescentes. Essa necessidade fisiológica intensa pode gerar mudanças nos hábitos alimentares, tornando essencial a orientação para que façam escolhas nutritivas e equilibradas. Essas transformações também podem impactar diretamente a autoestima e a percepção corporal, tornando indispensável o apoio de pais, educadores e profissionais para um amadurecimento físico e emocional saudável.
Como Pais e Educadores Podem Ajudar?
Diante de tantas mudanças, é essencial que adultos ofereçam suporte para que os adolescentes passem por essa fase de forma equilibrada. Aqui estão algumas dicas práticas:
- Estabeleça diálogo aberto e valide seus sentimentos: esteja disponível para ouvir sem julgamentos e demonstre interesse genuíno pelos pensamentos e sentimentos deles. Mesmo que pareçam exageradas, os sentimentos dos adolescentes são reais e significativos para eles.
- Defina limites claros: regras e consequências são importantes, e eles devem entender os possíveis riscos de suas escolhas e estar preparado para lidar com as consequências.
- Estimule a autonomia: permita que façam escolhas e assumam responsabilidades compatíveis com sua idade como, preparar seu café, ir à escola sozinho ou administrar sua mesada.
- Promova hábitos saudáveis: alimentação equilibrada, sono adequado e exercícios físicos ajudam na regulação emocional.
- Oriente sobre o uso de tecnologia: ajude-os a equilibrar o tempo de tela com atividades presenciais.
Considerações Finais
A adolescência é um período de intensas transformações que preparam o indivíduo para a vida adulta. O neurodesenvolvimento nessa fase é fundamental para a consolidação da identidade, autonomia e habilidades sociais. Compreender essas mudanças e oferecer suporte adequado é essencial para que os adolescentes possam se desenvolver de maneira equilibrada, construindo seu lugar no mundo com segurança e autonomia.