A segunda infância e o início da adolescência marcam um período de intensas transformações no cérebro da criança. Tudo está em constante evolução: a capacidade de raciocínio se expande, as emoções amadurecem e a compreensão das relações sociais se aprofunda.
Mas se engana quem pensa que essa transição acontece de forma linear e tranquila. Essa fase é repleta de descobertas, desafios e—para muitos pais e educadores—muitas perguntas sem resposta. Como lidar com a crescente independência das crianças? Como ajudá-las a desenvolver um pensamento mais crítico sem que se tornem excessivamente questionadoras? Como apoiá-las emocionalmente diante das primeiras inseguranças e pressões sociais?
Vamos mergulhar nesse universo e entender melhor o que acontece no cérebro e no comportamento das crianças dos 6 aos 12 anos.
O Salto Cognitivo: Pensamento Mais Lógico, Mas Ainda Concreto
De acordo com Jean Piaget, é nessa fase que as crianças entram no estágio das operações concretas. Elas começam a desenvolver um pensamento mais estruturado, organizando informações de maneira lógica e solucionando problemas de forma mais eficiente.
O vocabulário também cresce consideravelmente, e, com isso, surge uma maior capacidade de argumentação. Quem convive com crianças dessa idade sabe o quanto elas adoram questionar, debater e até mesmo “negociar” as regras do dia a dia. Isso acontece porque elas começam a perceber nuances na linguagem e entender que as palavras carregam significados mais complexos.
Porém, apesar desse avanço, seu pensamento ainda é limitado ao concreto. Conceitos abstratos e hipóteses muito distantes da realidade imediata ainda são difíceis de compreender. Muitas vezes, elas interpretam informações de forma literal, o que pode gerar algumas confusões ou frustrações.
Desenvolvimento Emocional: Entre o Controle e as Explosões
Se por um lado as crianças dessa faixa etária ganham mais controle sobre suas emoções e comportamentos, por outro, ainda enfrentam momentos de descontrole emocional—às vezes, bem parecidos com as famosas “birras” da primeira infância. Isso acontece porque a autorregulação emocional ainda está em construção, e o cérebro delas está aprendendo a equilibrar impulsos e sentimentos.
Além disso, é nesse período que as primeiras inseguranças sociais aparecem. A comparação com os colegas se torna mais frequente, e a aceitação do grupo ganha importância. Algumas crianças lidam bem com isso, enquanto outras podem desenvolver sinais de ansiedade e baixa autoestima.
Outro ponto importante é o início das mudanças hormonais, especialmente a partir dos 9 ou 10 anos. Essas alterações podem trazer flutuações de humor, maior sensibilidade emocional e, em alguns casos, até sinais de estresse.
Interação Social: Regras, Empatia e Influências Externas
Se antes a brincadeira era mais individual ou paralela, agora as crianças passam a valorizar muito mais as interações em grupo. Desenvolvem maior empatia, compreendem melhor as regras sociais e conseguem cooperar mais.
Porém, essa maior inserção no meio social também traz desafios. O risco de influências negativas de colegas ou da mídia cresce significativamente. Como estão construindo sua identidade, podem ficar mais vulneráveis a padrões comportamentais prejudiciais, especialmente se estiverem inseridas em ambientes tóxicos.
Por isso, a presença ativa de adultos de referência—sejam pais, professores ou outros responsáveis—é essencial para orientar e apoiar as crianças nessa fase.
Como Apoiar o Desenvolvimento Saudável Nessa Idade?
O equilíbrio entre autonomia e apoio é fundamental. Para ajudar a criança a crescer de forma confiante e preparada para os desafios dessa fase, algumas estratégias práticas podem fazer toda a diferença:
- Estimule o pensamento lógico e a criatividade: jogos de tabuleiro, quebra-cabeças e desafios matemáticos são excelentes aliados.
- Dê pequenas responsabilidades diárias: isso ajuda na construção da autonomia (ex.: arrumar a cama, ajudar no preparo de refeições).
- Ensine sobre planejamento: listas, agendas e rotinas ajudam a criança a organizar suas tarefas escolares e diárias.
- Trabalhe a regulação emocional: ensine técnicas simples de relaxamento, como respiração profunda e mindfulness.
- Estimule a socialização positiva: incentive esportes coletivos, participação em clubes e atividades em grupo.
- Estabeleça limites saudáveis para o uso de telas: promova atividades offline, como brincadeiras ao ar livre.
- Acompanhe os conteúdos que a criança consome: esteja atento aos filmes, séries, jogos e redes sociais que fazem parte do dia a dia dela.
- Valorize o esforço mais do que o resultado: elogie o processo de aprendizado e o esforço, não apenas as notas ou conquistas finais.
- Esteja emocionalmente presente: mais do que dar conselhos, ouça a criança, valide seus sentimentos e demonstre apoio.
Conclusão: Um Equilíbrio Entre Desafios e Conquistas
O período dos 6 aos 12 anos é uma fase incrível de desenvolvimento e aprendizado. As crianças ganham mais independência, ampliam seus conhecimentos e começam a se preparar para a adolescência.
Por outro lado, essa transição também traz desafios, desde as primeiras inseguranças sociais até as flutuações emocionais. Mas com o suporte certo—seja da família, da escola ou de profissionais da saúde e educação—elas podem atravessar essa fase de forma saudável, equilibrada e confiante para os próximos passos da vida.
E aí, que estratégias você já usa no dia a dia para apoiar o desenvolvimento das crianças? Compartilhe sua experiência!
Por Valéria Timóteo – Neuropsicopedagoga clínica – Colunista MN 30/01/2025